quarta-feira, 14 de abril de 2010

Campo do Calvário: O último adeus



O SC Vila Real completou este ano noventa anos de existência, e desde a sua fundação, o clube transmontano teve como expoente máximo no seu historial, várias presenças na segunda divisão nacional, tendo participado pela última vez nos anos 90.
Hoje, o SCVR milita os campeonatos distritais, mas nem esse infortúnio é capaz de retirar o mérito de ser um dos pioneiros da prática do futebol na região transmontana, e protagonizou inúmeros êxitos desportivos que proporcionaram aos vila-realense em geral, e aos indefectíveis adeptos, em particular, inesquecíveis momentos de acrisolado bairrismo e amor clubista.

Todavia, os êxitos do clube foram vividos acerrimamente no Campo do Calvário, a “casa forte” do SC Vila Real, que segundo rezam as crónicas, era um campo tradicionalmente difícil para os seus adversários, devido à moldura humana que preenchia aquele recinto desportivo.
A sua importância nesses momentos áureos, segundo os mais antigos, fez com que o Campo do Calvário fosse considerado uma memória histórica da cidade de Vila Real, mas nem isso foi suficiente, visto que o “mítico” campo de futebol está prestes a ser “destruído” para dar lugar a umas piscinas municipais.

Teríamos de recuar 20 anos para tentar perceber o motivo que levou ao desinteresse pelo recinto desportivo e à sua cruel destruição. Nos anos noventa, por força dos dirigentes na altura, o Campo do Calvário deixou de acolher a equipa sénior, que passou a disputar os seus jogos num novo recinto desportivo, o Monte da Forca, em Parada de Cunhos (situado nos arredores da cidade). Actualmente, só as camadas jovens do SC de Vila Real e do Diogo Cão fazem usufruto do campo de futebol.

A notícia sobre as construções de piscinas municipais em pleno Campo do Calvário. gerou alguma controvérsia entre os associados do clube e habitantes daquela cidade. Para um recinto desportivo com aquela importância, alguns dos sócios, apelam à “necessidade de preservar um campo que faz parte da história da cidade vila-realense, e que actualmente acolhe mais de duzentos jovens”. Os adeptos sugerem antes, uma remodelação muito menos dispendiosa que a construção de piscinas, como a incrementação de um relvado sintético e “bancadas mais acolhedoras para que a equipa sénior pudesse jogar lá”. Uma medida que, segundo eles, beneficiava o clube, pois “teriam mais gente a apoiar”.

Nem a moção de suspensão foi suficiente

As construções das piscinas terão o aval da Câmara Municipal de Vila Real, que é a proprietária do Campo do Calvário. Esta proposta levada a avante pelos responsáveis camarários social-democratas, não agradou à oposição, que chegou a apresentar uma moção que visava suspender a construção das piscinas. O CDS/PP foi o partido responsável pela moção e segundo a deputada do Partido Popular, Joana Rapazote, as piscinas poderiam ser construídas, por exemplo, no Parque Radical, “actualmente sem utilidade”.

Já o vereador do PS, Rui Santos, também se mostrou receptivo à moção apresentada pelo CDS/PP, e segundo o que disse à comunicação social, só tem a lamentar o facto de o clube SC Vila Real seja maltratado e futuramente “espoliado” por força da Câmara Municipal de Vila Real, para a realização de um projecto que implicará a destruição de um campo com “enorme historial”.

A moção, que foi apresentada numa assembleia municipal, foi votada favoravelmente pela oposição, não recebendo qualquer voto da bancada social-democrata, à excepção do deputado Costa Pereira, o Presidente da Associação de Futebol de Vila Real. Sem os votos dos sociais-democratas, a moção não surtiu efeito.

Costa Pereira foi bastante claro na sua opinião: “ O campo deveria continuar a ser um recinto desportivo dedicado à prática do futebol”, mas para tal, seria “necessário efectuar algumas obras de melhoramento e construção de um sintético”. Foram estas as razões que levaram o deputado do PSD a não votar em conformidade com o seu partido, admitindo que as obras no calvário “vão mesmo avançar”.

Porém, a Câmara Municipal prometeu dois relvados sintéticos com seis balneários anexos, junto ao estádio Monte da Forca. Estes projectos visam acolher as camadas jovens, que até ao arranque das construções das piscinas, vão deixar de praticar desporto no Campo do Calvário.
A mudança das camadas jovens do SCVR e da ADCE Diogo Cão para as instalações do Monte da Forca, pode trazer algumas desvantagens, segundo alguns sócios e simpatizantes do clube “alvi-negro”. Um destes adeptos, justificou que “ a maior parte destes meninos vão desistir de praticar futebol se a alternativa passar a ser o Monte da Forca, porque é longe, e os acessos são horríveis. Os pais nem sempre têm disponibilidade para os transportar”, rematou.

Boa presença de público no último jogo no “mítico” Campo

Devido ao mau estado do relvado no estádio municipal do Monte da Forca, a equipa sénior do SC de Vila Real viu-se obrigado a disputar alguns jogos no pelado do campo do Cálvario. Uma situação que não se via há anos, e que serviu para muitos adeptos matarem saudades dos “velhos tempos”. O último jogo da equipa sénior neste campo, aconteceu na 24ª jornada, ante o Pedras Salgadas, onde a equipa visitada venceu por uma bola a zero. Desse jogo, ficou patente que o Calvário não perdeu o seu espírito e tornou a encher a única bancada do recinto desportivo. Os adeptos mais antigos não compreendem o porquê de não disputarem os jogos no Calvário, até porque no Monte da Forca não se verificam “estas enchentes”.

No que diz respeito à transformação do campo em piscinas, houve quem atirasse a culpa à “passividade” dos dirigentes ao longo destes anos. Houve quem depositasse esperança num possível recuo dos responsáveis da câmara para a construção das piscinas, mas a maioria que assistia àquela partida, parecia estar mais preocupada em saborear o último jogo num campo que ficará para sempre na memória dos adeptos vila-realenses.